segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Aves- cãozinho- lusofonia e assuntos afins






imagens:
beija-flor, pardal,Luckynho,rolinha


Uma garota perguntava-me sobre a reforma ortográfica, expliquei-lhe sobre lusofonia.Quando recebi , em 2007,o título de Poeta Honoris Causa ,para oito Países lusófonos,tembém indagaram-me sobre eles e então a História, a Geografia, as guerras , tudo entra no caldeirão.
Esse meu texto abaixo foi publicado em site português que abrange histórias sobre animais, uma delícia.
Noutro dia, reli-o lá e vi que muitas palavras foram "aportuguesadas" para o "Português de Portugal".Agora, não seria mais preciso.

Visite o site, se gosta de aves, quatro-patinhos, insetos e tudo mais da fauna.Deliucioso espaço!
E meu texto abaixo.Devo dizer que não posso mais receber em casa minhas avezitas;pelas leis do amor ao cãozinho Lucky, que é ciumento demais e odeia as penosas, botando-as para voar assustadas.

Hoje, revi uma deliciosa entrevista de 1996, no Canal Brasil, com a encantadora Marina Colasanti.Disse que quer os animais soltos e seus amigos-uma cão, uma ovelha- que a olhem nos olhos e venham conversar com ela.Não quer ser dona de nenhum.Posso garantir que Lucky é meu dono:veio com a missão de afastar-me de um luto prolongado.E tomou conta ...Minha amiga Leila Miccolis também estima seus quatro-patinhas, O poeta e contista mineiro Marco Aurélio Lisboa e sua Wal criam gatinhos e noutro dia, escreveu-me feliz porque falei de seus haikais a Iara Abreu e ela vai ilustrá-los,Aliás, a mostra onde ela mostrou nossos poemas e os ilkustrou, fez tanto sucesso, que vai ser colocada em muitas regionais da capital mineira.

No meu sarau em 14 de outubro, no Terças Poéticas, sob a curadoria de Wilmar Silva e que acontece no palácio das Artes, Regina Mello e eu lemos meus haikais de gatinhos desiguais (mebora haikais não sejam intitulados, costumo intitular a série de um mesmo tema), ofereci esses poememtos a iara, que desenha gatinhos do parque Municipal, a Leila Miccolis que abriga vários em Maricá e ao Marco Aurélio, o único presente ( Iara nos aguardava na bilioteca, para onde fomos assim que o sarau terminou, para ver a belezura-beleza pura...)

Agora, leiam meu texto aportuguesado, achei-o mais saboroso:

laurabmartins03.blogs.sapo.pt/arquivo/1048075.html


Aves em liberdade


Sim, alimento as pardais e as rolinhas, para elas, essas avezinhas meras, compro canjiquinha, painço, alpiste e dou do meu próprio pão...

Estou aprendendo a linguagem das rolinhas, que têm um código de asas muito interessante. Para guardar território, para espantar, atrair, expulsar.
Minha amiga, a pintora Neuza Ladeira, contou-me que na Tailândia são aves preciosas e sagradas.

Engraçadinhas, dão a impressão de serem meigas, se essa palavra pode ser aplicada às avezinhas. Mas, pelo que observo com meu olhar de desenhista e poetisa, são extremamente belicosas. Levam a luta aos ares, em rodopio. Em vão ponho bocadinhos aqui e outros ali, no beiral de meu terraço. Brigam pra valer... Enfrentam as pombas espaçosas que descem atraídas pelos grãos, bravamente.

E batem nas rolinhas menores, as bebés um pouco menos querelentas. E quando as assusto sem querer, com meus passos em chinelinhos de cetim, voam para os fios em frente e fingem que não estão vigiando a comida. De vez em quando, fazem que olham, quais as mocinhas de antigamente. Assim que sossego, voam de volta.
Os pardais são cheios de algaravia, ainda não lhes decodifico o linguajar. Chiam e chiam. Acordam-me pela manhã. Invadem-me a casa, entram por qualquer cantinho e depois rodopiam desesperados, à procura da liberdade. Já criei - mais ou menos - um pequenino que, machucado, tolerava a minha proximidade. Eu chamava-o de Jeremias, uma graça.

Os menininhos pardais entram pela sala de porta sempre aberta e, pulinho aqui, pulinho acolá, não são muito medrosos do bicho-mulher. Depois que saem para o mundo, à força de serem escorraçados, de se assustarem com os carros que passam, ficam arredios e medrosos...

Há uma família de bem-te-vis, que longe de ter as asas controladas como as das rolinhas, são de uma alegria enlouquecida. Parecem torcedores com pompons nas mãos. Agitam o que podem, rumorosos e encantadores, listinhas amarelas na cabeça e peito de camisa idem...

Claro, coloquei água para os beija-flores. Um dos bebedouros veio com néctar, mas será que é possível colectá-lo com essa facilidade? Misturo um tantico de açúcar Mascavo ou mel. Eles adoram e com precisão enfiam os bicos longos e finos entre o orifício da corola. A flor é de plástico, mas eles parecem não se importar. Brigam pelo território, como os demais aqui, pelo espaço no ar.
Um foi expulsar com tanto ímpeto o invasor, que o bebedouro foi lançado a muitos metros de distância e se quebrou. Ele andou uns dias passando á procura, até que comprei outro.

Há uns colibris micro, outros do tamanho de andorinhas, e com elas se parecem, rabinhos em tesoura.

Meu marido Eduardo, sabendo dessa minha paixão por passarinhos, veio contar-me que ouvira em uma reportagem na TV, que à noite, de tão cansados, os beija-flores desmaiam (*). Nada os faz acordar. Desde então, corro meu olhar nocturno pela nocturna noite - com redundância propositada -para ver se entre moitas, encontro essas maravilhas que param no ar batendo as asinhas deforma quase inacreditável, coraçãozinho batendo alucinadamente...

Tenho uma colecção de gravuras reproduzidas de beija-flores de famílias várias, pintadas pelo pintor naturalista Etienne Demonte. São de tal forma perfeitas em detalhes, que nem sei de que forma o artista pode fazê-lo. Numa delas, descrevendo o beija-flor "Bico-de-sabre" (Heliothrix aurita auriculata), o especialista Augusto Ruschi chega a atribuir emoções humanas à avezinha:
"A parada nupcial do Heliothrix se desenrola com maior destaque nas fases de apresentação e exibição de plumagem". Sei que no reino animal isso é comum. Iguaizinhos a nós, humanos...

E continua: "na apresentação, o macho, em voo de liberação, se põe diante da fêmea a 30cm, e em voo para cima, para baixo e para os lados, como se estivesse a dar pequenos saltos, pois se lança a tais distâncias, e estanca de etapa em etapa, abrindo e fechando a cauda.

Em voo acompanha a fêmea (é, parece que os machos humanos aprenderam nessa cartilha!) fazendo ascensão em rodopios, para descer a outro pouso onde se segue a fase de exibição de plumagem. Então, o macho, fazendo voos de liberação, faz saltar os tufos violeta laterais, tornando-os bem salientes, e a parte enegrecida que contorna tais tufos. Fica em constante movimento, além de abrir a cauda em leque para, de quando em quando fechá-la e abri-la, até que a fêmea, já psicologicamente conquistada, se entrega".

Entre os humanos, as mulheres usam desses artifícios de conquista. E as gueixas, com seus leques, na dança?!...

Quando me levantei para ir à pasta, buscar uma das gravuras que peguei aleatoriamente, não sabia que encontraria a resposta para a pergunta crucial: ONDE DORMEM OS BEIJA_FLORES?

O dormir é realizado em pouso, em local alto e no emaranhado da vegetação de uma copa fechada", conta Ruschi, o ornitólogo minucioso. Por isso não os encontro quando os procuro, à noite...
O desenhista Etienne ilustra o locus de observação com perfeitas cópias de vegetação...Que lindeza, meu Deus...

Noutro dia, eu queria comprar uns periquitinhos, para ter melhor de quem cuidar. Meu filho Gabriel assombrou-se e proibiu veemente. Não quer morar em um lugar onde algo-alguém- esteja preso, ele que ama a natureza e a liberdade dos seres. Aquiesci. Em vão o vendedor me disse que as avezinhas coloridas já nascem em cativeiro e blá-blá-blá...

Uma vez, conheci uma senhora que deveria chamar-se D.Rolinha, tal sua semelhança: baixinha, encantadora, tão rolicinha (tão rolinha!). Peitoral tão arredondado e farto, que quando ia embarcar, as aeromoças gentilmente a deixavam tomar o avião na frente dos demais. Acreditavam-na grávida e ela, sorridente, aquiescia. Dulcíssima. Mas ai de quem lhe quisesse tomar o território: deu uns tapas na cara da amante do marido, brigou com todos os meninos que brigavam com seus filhos. Virava ave de rapina. Só lhe faltava o tamanho...
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25/04006
Clevane Pessoa de Araújo Lopes

(*) Adorei isso e escrevi uma peça,sobre presos nos Anos de Chumbo :"Mas Afinal, Onde Dormem os Beija-Flores?"Em meu cito sarau, Brenda Mars deveria passar e dizer essa frase com várias entonações.
Depois, disse, inesperadamente, que o ANU fora incinerado.
Quem esteve em Bento Gonçalves, sabe que ela se referira ao livro de Wilmar Silva -a completar 5 anos-, que ele ,simbolicamente, queima e faz voltar às origens da mãe terra.Afinal, o papel é feito de celulose.Tudo começou quando o Ademir Bacca pediu que se levasse terra de sua cidade, mas ele esqueceu.E , no ano passado, queimou o primeiro livro.Agora, virou costume.

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